O treinador que não treina

Tenho escrito bastante sobre Marcelo Oliveira, o pressionado técnico do Palmeiras. Seu currículo recente é inegável. Nos últimos três anos ele conquistou três títulos importantes: o bicampeonato nacional pelo Cruzeiro, em 2013 e 2014, e a Copa do Brasil, pelo seu atual clube, no ano passado. Antes das conquistas nacionais, fez um excelente trabalho no Coritiba.

A maior virtude do treinador palmeirense é seu conhecimento dos seus próprios jogadores. Tanto no Cruzeiro quanto no Palmeiras, foi abençoado com um elenco grande, cheio de opções, particularmente para as posições ofensivas. Certamente, isso facilita a vida do técnico, minimizando fatores como cansaço e contusões, pois sempre há jogadores capacitados no banco. Porém, quando todos esses profissionais estão aptos para jogar, o treinador precisa escolher as melhores opções para o time principal e, simultaneamente, motivar os reservas, deixando-os prontos para entrar a qualquer momento. Isso é difícil, ainda mais com o ego enorme do futebolista profissional, e é nisso que Marcelo Oliveira se destaca.

Não obstante, as equipes treinadas por Marcelo Oliveira não jogam um futebol atrativo. O Cruzeiro bicampeão mostrou alguns momentos de bom futebol, mas por causa das qualidades individuais de Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Lucas Silva. Na maioria das partidas, ganhou com gols de bola parada.

No Palmeiras, também é assim. Na melhor fase da equipe alviverde na temporada passada, o time abusava de cruzamentos na área e bolas paradas, e ganhava graças à habilidade de Dudu ou a visão de Robinho.

O curioso é que, nas suas entrevistas, Marcelo Oliveira prega um futebol bonito – com toque de bola, sem chutões, valorizando a posse de bola e o jogo coletivo – mas o estilo apresentado em campo não corresponde a isso.

O Palmeiras de Marcelo Oliveira é um time desarticulado, com grandes espaços entre as linhas de defesa, meio-campo e ataque. Abusa de lançamentos longos, os famosos chutões, por não ter defensores habilidosos e seguros com a bola no pé. É raro ver o Palmeiras construir uma jogada com mais de três passes. E é assim, desde que Marcelo Oliveira chegou.

Eu não acompanho os treinos do Palmeiras. Queria, pois estou curioso para saber o que, exatamente, a equipe vem fazendo durante a semana. Os problemas de junho de 2015, quando Marcelo chegou para substituir Oswaldo de Oliveira, persistam até hoje. Não melhoraram, nem pioraram, são os mesmos problemas de 2015.

Em novembro do ano passado, o Palmeiras sofreu três derrotas seguidas no Campeonato Brasileiro. Com a pausa para as Eliminatórias para a Copa do Mundo, o elenco alviverde inteiro se refugiou na cidade de Atibaia, no interior de São Paulo, para uma semana de treinos intensivos. Ao voltar, nada tinha mudado, e o Palmeiras continuou jogando o mesmo futebol horrível que motivou a ida à Atibaia.

Além dos problemas de treinamento, o Palmeiras apresenta algumas claras falhas estratégicas. O 4-2-3-1 de Marcelo Oliveira é, na prática, torto e desequilibrado. Há um atacante pelo lado esquerdo, o menino Gabriel Jesus, mas não há ninguém no lado direito. O sistema alviverde prevê a troca de posicionamento entre Dudu e Robinho. Permite, em tese, o primeiro a jogar mais centralizado e ter mais chances de finalizar. Na prática, Dudu não sai na zona central do campo, e Robinho não consegue jogar no lado direito. Assim, os ataques do Palmeiras ficam muito previsíveis, enquanto o lateral esquerdo adversário tem liberdade para subir e apoiar o sistema ofensivo.

Além disso, a insistência de Marcelo Oliveira de jogar com dois volantes marcadores é irritante. No elenco palmeirense, há três jogadores – Arouca, Gabriel e o ótimo Matheus Sales – com a capacidade de comandar o setor defensivo do meio-campo sozinhos. A presença de um “desarmador”, nesse caso Thiago Santos, é desnecessária.

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